quarta-feira, 13 de agosto de 2008

O que é Alfabetizar e Letrar?

Segundo alguns autores como Magda Soares, Ângela Kleiman, Maria Mortatti, Telma Leal, Geraldo Almeida, dentre outros, o conceito de alfabetização foi ampliado a partir das contribuições da psicogênese da língua escrita, fundamentalmente com os trabalhos de Emília Ferreiro e Ana Teberoski.
De acordo com esses estudos, a alfabetização é conceituada como a aquisição de uma tecnologia – consciência fonológica, relações grafema-fonema e domínio da escrita enquanto código. O sistema convencional de escrita (alfabética e ortográfica) e as habilidades técnicas de utilizá-la para ler e escrever, “caracterizando-se como um processo ativo por meio do qual a criança, desde seus primeiros contatos com a escrita, construiria e reconstruiria hipóteses sobre a natureza e o funcionamento da língua escrita, compreendida como um sistema de representação” (CEALE, 2005).
O letramento baseia-se no desenvolvimento de competências para o uso dessa tecnologia em práticas sociais, ou seja, o uso real da leitura e escrita, este conceito busca ampliar o trabalho desenvolvido no processo de escolarização com a leitura e escrita.
Historicamente o trabalho com a alfabetização permeou práticas com o uso de textos artificiais e descontextualizados, tomamos como exemplo as cartilhas.

O contexto para o novo conceito

Uma nova realidade social se impõe pelos desafios do mundo contemporâneo, na qual não basta dominar a tecnologia do ler e do escrever, mas para além disso saber compreender e interpretar na dinâmica social que os gêneros textuais são apresentados.
Outro aspecto a ser destacado é a democratização do acesso à escolarização (processos e resultados da escolarização, a questão do fracasso da escola, a avaliação dos sistemas, etc.), que trouxe questões como a diversidade sócio-cultural, que vem mobilizar o sistema de educação a propor novos olhares no que tange uma proposta de trabalho que considere a aprendizagem num contexto mais complexo e dinâmico. Desse modo, cabe ao sistema educativo desenvolver um trabalho para além do analfabetismo funcional, interessa compreender as práticas dos usos que os sujeitos fazem da escrita e leitura.
Neste sentido, ALFABETIZARLETRANDO propõe instrumentalizar o aluno para o uso dos diferentes gêneros de textos, orais e escritos, utilizados socialmente em seu ambiente, assim como, tomar como referência o texto nos diversos usos sociais.
O aluno ALFABETIZA-SE (apropria-se do sistema de escrita): em contexto de interação com material real escrito por meio de interação com material escrito real: em situações de LETRAMENTO.
O aluno LETRA-SE (desenvolve habilidades de uso da língua escrita nas práticas sociais): no contexto do processo de aquisição do sistema de escrita; por meio do processo de aquisição do sistema de escrita: em dependência da ALFABETIZAÇÃO.
Nesta perspectiva, ensinar a ler e escrever é um processo multifacetado, que envolve diferentes competências e fundamenta-se em diferentes referenciais teóricos. Compreendendo como eixos norteadores para o desenvolvimento do trabalho com a alfabetização e o letramento:
Compreensão e valorização da cultura escrita;
Apropriação do sistema de escrita;
Leitura;
Produção escrita;
Desenvolvimento da oralidade.
Assim, LER / ESCREVER não é apenas decodificar / codificar; não é apenas compreender / expressar significado; é, como essência e finalidade, atribuir sentido a textos escritos e orais em eventos de práticas sociais.
LER / ESCREVER é construção de sentido; é compreensão/expressão; é (re)conhecimento de palavras; é relações fonemas-grafemas (consciência fonológica e fonêmica).‏
Para Paulo Freire “...a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquela.” (2003)
Portanto, dependendo do contexto político-ideológico, o ensino da leitura e da escrita pode ser um instrumento direcionado tanto para a libertação, quanto para a domesticação do sujeito.
“Alfabetizar e letrar são duas ações distintas, mas não inseparáveis, ao contrário: o ideal seria alfabetizar letrando, ou seja: ensinar a ler a escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita”
(Magda Soares, 2001, p.47)‏

REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Geraldo Peçanha. Práticas de alfabetização e letramento. São Paulo: Cortez, 2006.
BATISTA, Antônio A. Gomes (et. al.). Coleção Instrumentos da Alfabetização. Ceale/Fae/UFMG, 2005.
BORGES, Teresa Maria M. Ensinando a ler sem silabar: alternativas metodológicas. Campinas, SP: Papirus, 1998.
BRASIL, MEC. Ensino fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade. Brasília: Secretaria de Ed. Básica. Departamento de Educação Infantil e Ensino Fundamental. FNDE, 2006.
____________. Parâmetros Curriculares Nacionais. língua portuguesa. Brasília: Secretaria de Educação Fundamental, 1997.
CAGLIARI, Luís Carlos. Alfabetização e Lingüística. São Paulo: Scipione, 1989.
FERREIRO, Emília e TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.
________________. Reflexões sobre alfabetização. São Paulo: Cortez, 2000.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 44ª ed. São Paulo: Cortez, 2003.
KÁTIA, Mary. O aprendizado da leitura. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
KLEIMAN, Ângela B. Preciso “ensinar” o letramento? Não basta ensinar a ler e a escrever? In: Linguagem e letramento em foco. Disponível: http://www.mec.gov.br/
LEMLE, Miriam. Guia teórico da alfabetização. São Paulo: Ática, 1994.
MOLICA, Maria Cecília. Fala, letramento e inclusão social. São Paulo: Contexto, 2007.
MOOL, Jaqueline. Alfabetização possível: reinventando o ensinar e o aprender. Porto Alegre: Mediação, 1996.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.
______________. Linguagem e Escola: uma perspectiva social. São Paulo: Ática, 1994.
TFOUNI, Leda Verdani. Letramento e Alfabetização. São Paulo: Cortez, 2002.

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